Page 52 - Revista Anual - Nº19
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3.2.5- ALTERAÇÕES DE ORIGEM PARASITÁRIA
• DISTOMATOSE HEPÁTICA
A Distomatose é a doença parasitária mais frequente em bovinos no matadouro, sendo responsável por
um número de rejeições elevado e consequente perda económica.
• Fasciolose
Fasciolose é uma doença provocada pela presença e ação irritativa do tremátode Fasciola hepática no
fígado (SOULSBY, 1986). No ciclo de vida deste parasita, Limnea truncatula (em Portugal) constitui o
hospedeiro intermediário, enquanto os hospedeiros definitivos são os bovinos e outros animais, inclu-
sivamente o Homem. As metacercárias constituem a forma infestante para o hospedeiro definitivo e,
após a sua ingestão, atravessam a parede intestinal, alcançando a cavidade peritoneal e atingindo o
fígado, efetuando aí migrações larvares. Quando cessa essa migração, alojam-se nos canais biliares
onde adquirem a maturação sexual (MACLACHLAN & CULLEN, 2001).
A fascíola hepática adulta apresenta uma forma achatada, foliácea, medindo de 2 a 3 cm de compri-
mento por 1 cm de largura (CASTRO E MOREIRA, 2008). Alguns parasitas podem acidentalmente
entrar nas veias hepáticas e circulação sistémica, dando origem a migrações erráticas do parasita,
nomeadamente nos pulmões (SOULSBY, 1986; KELLY, 1993), podendo observar-se complicações tais
como peritonite aguda, hepatite infeciosa necrosante, abcessos hepáticos (MACLACHLAN & CULLEN,
2001).
Na fase aguda, observam-se na inspeção post mortem lesões resultantes da migração das formas
larvares pelo parênquima hepático, e caracterizam-se por lesões hemorrágicas, aumento do tamanho
hepático e superfície irregular. A forma crónica é a mais frequente, resultando da presença dos parasi-
tas adultos nos canais biliares. Caracteriza-se por uma colangiohepatite, colangite hiperplásica, fibrose
pericolângica e por vezes calcificação dos ductos biliares, e oclusão completa ou parcial dos canais bi-
liares. Pode observar-se o fígado em “tubo de cachimbo”, devido ao aspeto de cordões esbranquiçados
de calibre irregular que correspondem aos canais biliares com intensa reação inflamatória (JONES et
al., 1997). À superfície de corte, observam-se os parasitas adultos em forma de rolhões desordenados
ou sob a forma de rolos nos canais biliares de menor calibre (Figura 15). Observa-se normalmente um
líquido mucoso e turvo, acastanhado a envolver os parasitas.
• Dicroceliose
A Dicroceliose é uma patologia provocada pela presença de um trematode de pequenas dimensões,
Dicrocoelium dendriticum, que apresenta forma de lanceta e extremidades pontiagudas. Este parasita
pode atingir bovinos, pequenos ruminantes, entre outros animais, podendo afetar o Homem. A forma
infestante para o hospedeiro definitivo é a metacercéria que atinge o fígado via ducto biliar comum
(JONES et al., 1997).
No exame post mortem, Dicrocoelium dendriticum pode encontrar-se normalmente alojado nos canais
biliares de menor calibre (Figura 16), podendo levar a alterações hepáticas, mas estas não são tão
exuberantes comparativamente às observadas em casos de fasciolose. Ocasionalmente causam obs-
trução de alguns canais biliares com espessamento das paredes dos mesmos (SARAIVA, 1999; GIL
2001; MACLACHLAN & CULLEN, 2001).
• Distomatose errática
Devido à migração errática dos parasitas, devem procurar-se lesões a nível dos pulmões, as quais se
apresentam normalmente sob a forma de quistos ou nódulos sub-pleurais (Figura 17) contendo parasi-
tas mortos, envoltos por um conteúdo gelatinoso e purulendo, podendo evoluir para a abcedação. Por
vezes os quistos apresentam-se calcificados (TASSIN E ROZIER, 1991a).
• Decisão Sanitária
O Regulamento nº 854/2004 prevê a reprovação das vísceras que apresentem lesões parasitárias,
sendo que caso ocorram apenas no fígado, implicam apenas a reprovação deste órgão. No caso de
distomatose errática, deve proceder-se à reprovação das vísceras afetadas.
Sempre que ocorra uma afeção intensa com repercussões sobre o estado geral da carcaça, deve pro-
ceder-se à sua reprovação total e das respetivas vísceras.
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