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DESENVOLVIMENTO DE UMA FERRAMENTA DE APOIO
À GESTÃO DE EXPLORAÇÕES LEITEIRAS
Isabel M. Santos, Isabel C. Ramos, Joaquim P. Nunes, Ana C. M. Gomes,
André D. C. Lopes
CAVC, Cooperativa Agrícola de Vila do Conde, Rua da Lapa, 293, 4480-757, Vila do Conde,
Portugal.
Nas últimas décadas ocorreu uma mudança estrutural no setor do leite e nas explorações agrícolas
que se refletiu numa intensificação da atividade (Alvarez et al., 2008) com a consequente diminuição
do número de explorações e o aumento do efetivo por exploração (Breustedt e Glauben, 2007). Estas
mudanças estruturais, juntamente com a globalização das politicas económicas e a liberalização dos
mercados agrícolas, promoveram uma reafectação da produção agrícola mundial (Isermeyer et al.,
2003), tendo levado a um aumento dos preços dos fatores de produção agrícola e a uma diminuição
do preço do leite pago ao produtor. O mercado ficou extremamente volátil e, salvo em raras exceções,
rentabilidade de forma a garantir a sobrevivência do negócio a longo prazo (Oliveira & Pereira,
o aumento do preço do leite pago ao produtor não acompanha, em tempo real, o aumento dos preços
2009). dos fatores de produção. Foi neste contexto de mercado altamente competitivo que a União Europeia
promoveu, no ano de 2015, a abolição do sistema de quotas que levou a mudanças estruturais nos
sistemas de produção, aumentando ainda mais a produção de leite na Europa.
Paralelamente, apesar de se poder obter o máximo de informação possível sobre determinado
Os produtores de leite estão assim inseridos num contexto de elevada competitividade, incertezas e
redução da margem, em que a eficácia na tomada de decisões assume um papel fundamental para a
negócio através de uma gestão económica organizada, não significa obrigatoriamente que se
sustentabilidade do negócio.
saiba tirar proveito da mesma. Uma das grandes dificuldades do empresário agrícola moderno
Uma forma de se manterem competitivos, passa pela rentabilização das suas explorações, identifican-
reside na disponibilidade de interpretação de toda a informação que rodeia a sua atividade. A
do e quantificando os diversos indicadores de rentabilidade. Deste ponto de vista, o papel da gestão
económica exerce um papel fundamental na otimização dos indicadores de rentabilidade de forma a
capacidade para se extrair indicadores fiáveis a partir dos dados, muitas vezes sem correlação
garantir a sobrevivência do negócio a longo prazo (Oliveira & Pereira, 2009).
direta, compilá-los e produzir relatórios de gestão que consigam resumir o estado da empresa,
Paralelamente, apesar de se poder obter o máximo de informação possível sobre determinado negócio
é fundamental para que possa tomar as decisões corretas. Além disso, em determinada área
através de uma gestão económica organizada, não significa obrigatoriamente que se saiba tirar provei-
de negócio, interessa perceber qual a performance da empresa quando comparada com outras
to da mesma. Uma das grandes dificuldades do empresário agrícola moderno reside na disponibilidade
de interpretação de toda a informação que rodeia a sua atividade. A capacidade para se extrair indica-
da mesma área, procedimento normalmente chamado de “benchmarking”. Entre os métodos
dores fiáveis a partir dos dados, muitas vezes sem correlação direta, compilá-los e produzir relatórios
de planeamento, a identificação e análise de benchmarks, destaca-se pela sua segurança e
de gestão que consigam resumir o estado da empresa, é fundamental para que possa tomar as deci-
sões corretas. Além disso, em determinada área de negócio, interessa perceber qual a performance
precisão, uma vez que os valores são obtidos diretamente das unidades de produção presentes
da empresa quando comparada com outras da mesma área, procedimento normalmente chamado de
“benchmarking”. Entre os métodos de planeamento, a identificação e análise de benchmarks, destaca-
no mesmo ambiente económico (Oliveira et al., 2007).
-se pela sua segurança e precisão, uma vez que os valores são obtidos diretamente das unidades de
produção presentes no mesmo ambiente económico (Oliveira et al., 2007).
Novembro 2017
Revista Portuguesa de Buiatria 55
Entre as partes interessadas da cadeia de produção, os produtores são o elo que acarreta com
a maior parte dos custos e, portanto, são o objeto principal para a redução dos mesmos. A
alimentação representa 40-60% dos custos totais das explorações, por isso, para garantir a sua
rentabilidade, os produtores precisam de conhecer em profundidade os custos reais com a
alimentação do seu efetivo, para melhor definir estratégias e adaptar os regimes alimentares
em função da volatilidade do mercado de matérias primas. A maioria dos produtores
concentra-se no aumento da produção total de leite, refletindo-se diretamente num aumento
da receita total do leite para o agricultor. Contudo, com a dependência do exterior na aquisição
das matérias-primas utilizadas na alimentação dos animais conjugada com a volatilidade no
preço pago pelo leite ao produtor, o “income over feed cost” (IOFC) foca-se na margem e,
portanto, é uma medida de eficiência mais vantajosa do que o simples custo de alimentação
por vaca em lactação (Buza, 2014). Mais, reflete o dinheiro que sobra, depois de contabilizar os
custos de alimentação das vacas em lactação, para pagar as outras despesas da exploração e é
cientificamente reconhecido como um bom indicador da rentabilidade de uma exploração
(Bailey and Ishler, 2007) porque fornece um valor sobre a eficiência do programa alimentar
para a quantidade de leite produzido. Os produtores podem usar essa informação para definir
estratégias e metas e monitorizar em tempo real se uma decisão de alteração do regime
alimentar tem impacto positivo ou negativo nos resultados da exploração.

