Page 50 - Revista Anual - Nº19
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A congestão passiva crónica leva a hipóxia persistente das áreas centrolobulares e consequente atrofia
            dos hepatócitos, degenerescência ou eventualmente necrose. Ao corte, o fígado apresenta um padrão
            acinar reticulado, o qual é mais evidente sob a cápsula do que na profundidade do parênquima. Este
            padrão é conhecido como “fígado de noz moscada”, devido ao contraste entre a cor vermelha das
            áreas de necrose periacinar e reposição sanguínea, e a cor amarelada dos tecidos periportais con-
            sistindo em hepatócitos que sofreram degenerescência gorda. Pode ainda verificar-se o envolvimento
            dos bordos hepáticos, espessamento fibroso focal da cápsula e, em casos severos, fibrose hepática
            disseminada (KELLY, 1993; MACLACHLAN & CULLEN, 2001).
            Decisão Sanitária
            Se a congestão passiva implicar apenas o envolvimento do órgão sem sinais de generalização do pro-
            cesso deve proceder-se apenas à reprovação do fígado. Se a congestão passiva for acompanhada de
            processos generalizados deve proceder-se à reprovação total da carcaça e respectivas vísceras (Reg,
            854/2004).
            3.2.2- ALTERAÇÕES PIGMENTARES


            • MELANOSE MACULOSA
            O termo melanose refere-se a desordens da pigmentação melânica (MACLACHLAN & CULLEN, 2001),
            que se caracterizam pela deposição de melanina em localizações anormais, nomeadamente no cora-
            ção, pulmões, fígado, serosas, meninges, fáscias intermusculares (TASSIN E ROZIER, 1991a) e pele.
            Nos bovinos ocorre principalmente nos pulmões, fígado e meninges (GRACEY, 1999).
            Encontram-se descritos 2 tipos de melanose: a adquirida que, segundo alguns autores, tem origem
            numa componente da dieta alimentar dos animais, tendo sido descrita em ovinos e em bovinos, respe-
            tivamente na Austrália, e na Escandinávia e ilhas Falkland (KELLY, 1993; MACLACHLAN & CULLEN,
            2001) e a congénita, cuja etiologia pode residir numa distopia congénita dos melanócitos que desapa-
            rece nos primeiros anos de vida (DHAME e SCHRODER, 1985). A melanose congénita ocorre geral-
            mente em vitelos e ocasionalmente em cordeiros e em suínos. Trata-se de uma lesão sem qualquer
            significado clínico, não se observando no exame post mortem qualquer alteração na arquitetutra, textu-
            ra e consistência das estruturas afetadas. É denominada melanose maculosa devido ao aparecimento
            de manchas de coloração negra (Figura 8), de tamanho variável e forma irregular (JONES et al., 1997;
            MACLACHLAN & CULLEN, 2001)
            As lesões podem ser localizadas (melanose localizada), mas podem surgir em vários órgãos e partes
            de carcaça, denominando-se de melanose generalizada.
            Decisão sanitária
            A identificação deste processo no matadouro como lesão única no fígado, implica apenas a eliminação
            do mesmo. Se a lesão estiver associada a lesões da carcaça, levará a uma rejeição total, dado o seu
            aspeto de coloração anormal e repugnante (Reg, 854/2004).


            3.2.3- ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS

            • ESTEATOSE
            A esteatose hepática não é uma entidade patológica específica, mas pode ocorrer como sequela de
            uma variedade de perturbações do metabolismo normal dos lípidos (MACLACHLAN & CULLEN, 2001).
            Este processo resulta da acumulação de lípidos nos hepatócitos em quantidade superior ao normal e
            ocorre devido a uma maior mobilização de ácidos gordos livres para o fígado, ou quando a taxa de
            acumulação de triglicéridos nos hepatócitos excede a sua taxa de degradação metabólica ou a sua
            libertação como lipoproteínas (KELLY, 1993; MACLACHLAN & CULLEN, 2001).
            Este processo nem sempre é indicativo de um alteração patológica (JONES et al., 1997). Em ruminan-
            tes observa-se frequentemente devido a um aumento das necessidades energéticas, como é o caso
            de vacas em final de gestação ou durante o pico de lactação, nas quais a acumulação de lípidos nos
            hepatócitos é devida a um aumento da mobilização dos lípidos (KELLY, 1993). Em bovinos de leite,
            a esteatose ocorre poucos dias após o parto e é frequentemente precipitada a um evento, tal como
            retenção placentária, mamite, metrite, deslocamento do abomaso e parésia pós-parto (MACLACHLAN
            & CULLEN, 2001).
            Ao exame visual, o fígado apresenta aumento de volume, superfície lisa, bordos arredondados, cor
            mais clara que o normal castanho-pálida (Figura 9), aspeto pastoso (Figura 10) e consistência friável.
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