Page 49 - Revista Anual - Nº19
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As principais causas de rejeição de fígado de bovino são devidas a:
              - Alterações circulatórias
              - Alterações pigmentares
              - Alterações degenerativas
              - Alterações infecciosas
              - Alterações parasitárias
              - Cirrose
              - Litíase biliar

            3.2.1- ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS

            • TELANGIECTASIA MACULOSA
            A Telangiectasia maculosa é caracterizada pela dilatação de sinusóides hepáticos com acúmulo de
            sangue, que ocorre com maior frequência em animais de idade avançada (TASSIN E ROZIER, 1991a;
            SARAIVA, 1999). A sua etiologia não se encontra bem estabelecida, contudo várias hipóteses têm
            vindo a ser estabelecidas. Alguns autores referem a isquémia local, reações celulares imunomediadas,
            retorno ativo a uma estrutura local embrionária, hepatite focal necrosante, necrose hepatocelular, den-
            sidade reduzida das fibras de reticulina com diminuição da resistência trabecular à pressão intrasinu-
            soidal, malformação congénita por ramificação anormal das veias central ou sub lobular, entre outras
            causas possíveis (JONES et al., 1997; MACLACHLAN & CULLEN, 2001).
            É um processo aparentemente sem significado funcional ou clínico, pelo que não se observa sintoma-
            tologia no exame ante mortem (KELLY, 1993; MACLACHLAN & CULLEN, 2001).
            Ao exame macroscópico a superfície hepática apresenta-se irregular devido a manchas ou máculas
            deprimidas, bem delimitadas de cor violácea ou vermelho escura (Figura 5). Ao corte, o fígado revela
            o mesmo tipo de lesão em profundidade (SARAIVA, 1999; GIL, 2000). Normalmente não se encontram
            associadas a alterações noutros órgãos ou carcaça.
            O diagnóstico diferencial de telangiectasia deve colocar-se relativamente a: melanose maculosa, com
            manchas de cor enegrecida mas não deprimidas, podendo afetar outros órgãos em simultâneo; hemos-
            siderose, com lesões puntiformes e de coloração acastanhada uniforme ao órgão, apresentando lesões
            de necrose associadas; hemorragias subcapsulares, que não fazem depressão à superfície do órgão,
            nem se observam em profundidade; hemangioma, com lesões nodulares de arquitetura vascular, úni-
            cos ou múltiplos, constituindo canais repletos de sangue, envoltos por um fino estroma de suporte; en-
            tre outros (TASSIN E ROZIER, 1991a; SARAIVA, 1999; GIL, 2000; MACLACHLAN & CULLEN, 2001).
            De acordo com os resultados obtidos em vários matadouros em Portugal, a telangiectasia (15%) foi a se-
            gunda causa de reprovação do fígado de bovinos, a seguir à distomatose hepática (58%) (SARAIVA, 1999).
            Decisão Sanitária
            Se as lesões forem pouco numerosas, proceder-se-á apenas à reprovação da área afetada; caso se-
            jam generalizadas a todo o órgão levam a uma rejeição total do fígado (Reg, 854/2004).

            • CONGESTÃO PASSIVA
            A congestão passiva pode surgir em qualquer espécie (MACLACHLAN & CULLEN, 2001) e denota
            um aumento da pressão sanguínea nas veias centrais e seus tributários, relativamente à pressão nas
            vênulas portais (KELLY, 1993).
            A congestão passiva pode ser generalizada ou localizada (TASSIN E ROZIER, 1991a). A congestão
            passiva localizada pode ocorrer devido à obstrução completa ou parcial das veias hepáticas ou da
            veia cava caudal por um abcesso contíguo ao parênquima hepático ou neoplasia (MACLACHLAN &
            CULLEN, 2001). Este evento pode também ocorrer quando parte do fígado é encarceramento como
            resultado de uma hérnia diafragmática (Figura 6) ou quando um lobo hepático é submetido a uma
            torsão parcial crónica (KELLY, 1993). A congestão passiva generalizada ocorre devido a uma falência
            cardíaca congestiva (MACLACHLAN & CULLEN, 2001), consecutiva a distúrbios da circulação de re-
            torno de origem cardíaca: pericardites; endocardites e cardiomiopatias congénitas dos vitelos (TASSIN
            E ROZIER, 1991a).
            A congestão passiva pode ser de caracter agudo ou crónico. Na congestão passiva aguda, o fígado
            encontra-se ligeiramente hipertrofiado, vermelho escuro (Figura 7), com um padrão lobular intrínseco
            do órgão pode encontrar-se levemente mais pronunciado. Ao corte, flui grande quantidade de sangue   Novembro 2017
            (MOUWEN & GROOT, 1986; KELLY, 1993).

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