Page 43 - Revista Anual - Nº19
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4.2. MIOCARDITE
A miocardite é uma lesão comum em muitas doenças de caráter sistémico, mas raramente ocorre como
um processo primário. Resulta de extensão direta de lesões inflamatórios do endocárdio e do pericárdio
e mais frequentemente de infeção hematógena (Van Vleet e Ferrans, 2001; Maxie e Robinson, 2007).
Alguns parasitas também causam miocardite. Os parasitas que se localizam no miocárdio são os mes-
mos que têm afinidade para o músculo esquelético. Sarcocystis podem encontra-se em bovinos e ser
responsáveis por miocardite, assim como Cysticercus bovis (Figura 11) (Maxie e Robinson, 2007). Nos
bovinos podemos encontrar diferentes espécies de Sarcocystis nomeadamente S. cruzi, S. hirsuta e S.
hominis. Pode observar-se hemorragias na musculatura esquelética, onde alternam com áreas de colo-
ração pálida e o coração pode apresentar uma coloração escura. Em carcaças de bovinos submetidas
a refrigeração a 2ºC os quistos permanecem viáveis durante 18 dias e quando submetidos a – 20ºC
perdem a capacidade infetante em 3 dias. Em músculo com quistos, submetidos a 45ºC a vitalidade
destes mantém-se 5 a 6 minutos, sendo necessárias temperaturas de 65 a 70ºC durante 10 minutos
para que ocorra a morte dos bradizoítos (Hernández-Rodriguez et al., 2000).
Em casos de cisticercose podemos observar no miocárdio, língua e masséteres cysticercus bovis que
se apresenta como uma pequena vesícula com líquido translúcido com um escólex. Os cisticercos, a
temperaturas compreendidas entre -2 e -6ºC resistem 150h e 30 min são suficientes para os destruir
a temperaturas de -30ºC (Sanchez Acedo, 2000). Em casos de cisticercose generalizada a carca-
ça deve ser declarada imprópria para consumo, contudo em caso de processos não generalizados
as partes que não apresentem lesões podem
ser aprovadas para consumo após terem sido
submetidas a um tratamento pelo frio (Regula-
mento nº854/2004, anexo I, secção IV, Capítulo
IX). Este tratamento pelo frio implica submeter a
carcaça a – 7ºC durante pelo menos 3 semanas
ou – 10ºC durante pelo menos duas semanas
(Collins e Huey, 2015).
Figura 11 – Coração de bovino – Cisticercose
(Vales, 1999).
4.3. ENDOCARDITE
As endocardites constituem as mais importantes alterações do endocárdio e são geralmente de origem
bacteriana, podendo excecionalmente estar associadas a causas parasitárias ou micóticas. Qualquer
porção do endocárdio pode ser afetada, embora geralmente a inflamação tenha início nas valvas (en-
docardite valvular) e só posteriormente se estenda para a parede adjacente (endocardite mural) (Van
Vleet e Ferrans, 2001; Maxie e Robinson, 2007). A endocardite valvular aguda pode estar associada
a uma grande variedade de bactérias. Nos bovinos, Trueperella pyogenes é o agente mais comum e
muitas vezes o foco primário da infeção pode encontrar-se em outros locais como abcessos hepáticos,
abcessos peritoniais, metrites e mamites (Van Vleet e Ferrans, 2001; Maxie e Robinson, 2007; Collins
e Huey, 2015).
No exame post mortem as válvulas afetadas apresentam massas vegetativas amareladas ou acinzen-
tadas e friáveis aderidas às superfícies, que em processos crónicos passam a ter um aspeto verrucoso.
As massas vegetativas pela sua matriz friável podem libertar-se originado êmbolos que causam enfarte
no cérebro, rins e outros órgãos e pelo facto de conterem microrganismos podem mesmo observar-se
abcessos nos mesmos locais
(Van Vleet e Ferrans, 2001; Schoen, 2005; Maxie e Robinson, 2007).
Em casos de endocardites associadas a lesões nos pulmões, fígado ou outros órgãos deve proceder- Novembro 2017
-se à reprovação total da carcaça e respectivas vísceras.
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