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De acordo com o regulamento (CE) nº 854/2004 (Anexo I, Secção IV, Cap. IV) na inspeção post mortem
dos pulmões, pleura e coração de bovinos deve proceder-se do seguinte modo:
- Inspeção visual dos pulmões e da traqueia;
- Palpação dos pulmões;
- Abertura longitudinal da traqueia e dos brônquios principais;
- Incisão dos pulmões, perpendicular aos eixos principais, no seu terço posterior;
- Incisão e exame dos gânglios linfáticos brônquicos e mediastínicos (Lnn.tracheobronchales
e mediastinales);
- Inspeção visual da pleura;
- Inspeção visual do pericárdio e do coração, com incisão longitudinal deste, de modo a abrir
os ventrículos e a atravessar o septo interventricular;
Na inspeção do aparelho respiratório, devemos prestar particular atenção aos pulmões, uma vez que
estes órgãos, tal como o fígado e os rins, actuam como filtros (Esteves et al., 2000). A palpação dos
pulmões tem-se revelado importante na deteção de lesões que impliquem alterações na consistência
do parênquima e que pela simples inspeção visual não seriam detetadas, nomeadamente abcessos,
lesões de natureza parasitária ou mesmo tumoral. Além disso a incisão transversal na parte inferior dos
lobos diafragmáticos (dispensável, caso os pulmões não se destinem ao consumo humano), permite
evidenciar a estrutura pulmonar e assegurar uma melhor depleção sanguínea (Gil, 2000).
A abertura do coração facilita a observação do miocárdio, para a deteção, por exemplo de cisticercos, e
permite a visualização do endocárdio, para detetar a presença de hemorragias petequiais assim como
de valvulopatias (Collins e Huey, 2015).
3. PRINCIPAIS ALTERAÇÕES OBSERVADAS NO PULMÃO
Neste trabalho serão abordados em particular, o enfisema pulmonar, as alterações circulatórias (con-
gestão passiva/lesões congestivo-hemorrágicas), as alterações de origem parasitária e as pneumo-
nias, pois correspondem às lesões pulmonares mais observadas em matadouro.
3.1. ENFISEMA PULMONAR
O enfisema pulmonar nos animais é quase sempre uma lesão secundária, resultante de outro tipo de
lesões pulmonares e resulta da excessiva acumulação de ar no pulmão (Dungworth, 1993; López,
2001). O enfisema pode ser classificado como alveolar e intersticial, de acordo com o local onde se
acumula o ar (Jones e Hunt, 1983; López, 2001).
O enfisema alveolar é definido como o alargamento irreversível e anormal dos espaços aéreos distais
aos bronquíolos terminais, com destruição das paredes alveolares é pouco frequente nos animais
domésticos (Jones e Hunt, 1983; Dungworth, 1993; López, 2001). No exame post mortem os pulmões
apresentam-se pálidos, aumentados de volume e podem observam-se as impressões deixadas pelas
costelas nas superfícies laterais (López, 2001; Caswell e Williams, 2007). Por vezes podem observar-
-se lesões macroscópicas semelhantes às de enfisema alveolar, que resultam da retenção de ar por
bloqueio ou espasmo das vias aéreas superiores, mas que não está associada sintomatologia, pois as
paredes alveolares não são destruídas (Caswell e Williams, 2007).
O enfisema intersticial caracteriza-se pela presença de ar no teci-
do conjuntivo do pulmão, nomeadamente nos septos interlobulares,
espaço subpleural e em torno dos vasos e vias aéreas. Esta lesão
nos bovinos, em particular nos mais idosos, é frequentemente en-
contrada no matadouro (Tassin e Rozier, 1992; López, 2001; Caswell
e Williams, 2007). No exame post mortem os pulmões apresentam
a lobulação bem evidenciada e os septos interlobulares repletos de
bolhas de ar de diferentes tamanhos (Gracey, 1989; López, 2001)
(Figura 2).
Figura 2 – Pulmão de bovino – Enfisema Intersticial (Pires, 1995).
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