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Nos bovinos a falta de ventilação colateral (López, 2001; Caswell e Williams, 2007), em situações que
causem manobras de expiração forçada, como no caso da agonia da morte, poderá causar enfisema
intersticial (Jones e Hunt, 1983; Tassin e Rozier, 1992; Dungworth, 1993; López, 2001). Pode ocorrer
ainda, associado à estrongilose pulmonar, por um efeito de válvula, à inalação de substâncias irritantes,
ou co-existir a lesões pulmonares inflamatórias (Gracey, 1989; Tassin e Rozier, 1992).
A identificação destas lesões no exame post mortem, como lesões únicas, determina apenas a repro-
vação dos pulmões (Collins e Huey, 2015).
3.2. ALTERAÇÕES CIRCULATÓRIAS
Os pulmões podem apresentar uma grande variedade de alterações circulatórias, que resultam de ano-
malias que envolvem os vasos pulmonares e o coração ou de lesões vasculares secundárias a doença
pulmonar (Dungworth, 1993). As alterações circulatórias são lesões comuns no exame post mortem
dos bovinos, particularmente a congestão passiva e as hemorragias (Figura 3).
A avaliação e a decisão sanitária perante as lesões atrás descritas, depende do quadro anatomopa-
tológico apresentado. A congestão passiva está frequentemente associada a insuficiência cardíaca
(podendo mesmo estar associada a lesões cardíacas, ex.: endocardite), ou resultar de asfixia por es-
trangulamento ou da hipostase do período agónico. Os pulmões apresentam-se volumosos, vermelhos
violáceos e ao corte verifica-se o escoamento de muito sangue (Tassin e Rozier, 1992).
As hemorragias pulmonares podem ter origem em traumatismos, ruptura de aneurismas, septicémia/
toxémia, coagulação intravascular disseminada, insuficiência cardíaca congestiva grave, tromboem-
bolismo pulmonar por trombose da veia jugular ou por abcessos hepáticos que ruturam para a veia
cava ou ainda estar associadas a enfartes (Tassin e Rozier, 1992; Dungworth, 1993; López, 2001). As
hemorragias podem ser petéquiais ou ocupar extensas regiões do pulmão (Dungworth, 1993).
A aspiração agónica de sangue, resulta no aparecimento de um padrão caracterizado pela presença de
pequenos focos vermelhos brilhantes que se assemelha a hemorragias pulmonares petéquias (Caswell
e Williams, 2007). Pode ocorrer durante o abate ao cortar os vasos sanguíneos e a traqueia (Gracey
et al., 1999; López, 2001). Neste caso observa-se a presença de sangue no lume traqueal e brônquico
(Tassin e Rozier, 1992; Gil, 2000).
A presença de alteração circulatória impõe um exame aprofunda-
do dos restantes órgãos, particularmente dos rins, serosas, tecido
conjuntivo da carcaça e gânglios linfáticos (Tassin e Rozier, 1992).
Confirmando-se a presença destas lesões como únicas, a decisão
sanitária será de reprovação dos pulmões, com a aprovação das
restantes vísceras e carcaça.
Figura 3 – Pulmão de bovino – Hemorragia Pulmonar (Fontes, 1997).
3.3. EDEMA PULMONAR
O edema pulmonar é uma complicação frequente de muitas doenças e uma das anomalias pulmonares
mais comuns (Caswell e Williams, 2007). O edema pulmonar pode classificar-se de hemodinâmico ou
de permeabilidade. O edema pulmonar hemodinâmico pode resultar do aumento da pressão hidrostáti-
ca, associado nomeadamente a casos de insuficiência cardíaca congestiva, da diminuição da pressão
oncótica, que resulta de hipoalbuminémia muitas vezes associada a doença hepática, doença renal ou
enteropatia ou a obstrução linfática, muitas vezes resultante da invasão neoplásica dos vasos linfáticos.
O edema pulmonar por aumento a permeabilidade da barreira ar/sangue está associado a processos
de natureza inflamatória (Gracey et al., 1999; Husain e Kumar, 2005; Caswell e Williams, 2007).
No exame post mortem os pulmões edemaciados encontram-se húmidos e pesados, não colapsam
totalmente à abertura da cavidade torácica e pode observar-se fluído na cavidade torácica. A cor varia
dependendo do grau de congestão ou hemorragia e nos bovinos o padrão lobular acentua-se devido à
distensão dos septos interlobulares (López, 2001; Caswell e Williams, 2007).
A presença de edema pulmonar por si só implica apenas a de reprovação dos pulmões, com a aprova-
ção das restantes vísceras e carcaça. No entanto qualquer forma de edema acompanhada de emacia-
ção implica a reprovação total da carcaça (Gracey et al., 1999). Novembro 2017
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