Page 26 - Revista Portuguesa de Buiatria - Nº 23
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testagem dos animais positivos, abate total do   animais faz-se através dos recursos hídricos pre-
            efetivo e a aplicação da vacina RB51 em efetivos   sentes na exploração, nomeadamente várias bar-
            de risco ou áreas epidemiológicas, através de um   ragens e um pequeno curso de água que tem
            Plano Individual de Saneamento (PIS), que tem   origem em propriedades vizinhas. A alimentação
            em conta as necessidades de cada exploração em   dos animais consiste em pasto natural e suple-
            específico face à infeção com B. abortus, e esta-  mentação com alimento seco e forragem durante
            belece parâmetros de seleção e base legal das   os meses de maior escassez de alimento. Os bo-
            medidas em referência. As mudanças de estatuto   vinos coabitam com um efetivo ovino de cerca de
            sanitário da exploração decorrem paralelamente   35 animais pertencentes ao mesmo produtor. O
            a este processo. O abate de animais positivos en-  objetivo desta exploração é a reprodução e sub-
            quadra-se numa das medidas para controlo desta   sequente venda de animais jovens machos e fê-
            doença, sendo executado no decurso da aplica-   meas para sistemas de engorda ou diretamente
            ção das medidas de controlo referentes à vacina-  para abate, que têm como destino final a venda de
            ção com RB51. Todos os bovinos seropositivos    carne para consumo animal e humano, dos quais
            através do teste de fixação do complemento (FCT)   dependem os rendimentos da exploração. O ma-
            são alvo de colheita de material biológico para   neio reprodutivo nesta exploração faz-se através
            exame bacteriológico com tipificação do agente,   de dois grupos distintos, nomeadamente as novi-
            exceto os animais provenientes de uma explora-  lhas e as vacas. Muitas das novilhas só são apre-
            ção com B. abortus já conhecida, e que estejam   sentadas ao macho por volta dos 3 anos, parindo
            em isolamento com estatuto sanitário B2.        com cerca de 4 anos. Os machos estão com as
               O PIS é o protocolo escrito onde são estabe-  vacas todo o ano, não havendo qualquer interven-
            lecidas as medidas a desenvolver no sentido de   ção no maneio reprodutivo desta manada. Algu-
            controlar a infeção brucélica nos bovinos da uni-  mas novilhas permanecem na exploração para
            dade epidemiológica em questão e prevenir a     substituição de fêmeas mais velhas. O produtor
            infeção de outros efetivos, assim como evitar a   não possuía quaisquer registos de dados reprodu-
            sua reintrodução após a erradicação. O seu con-  tivos à data de início do estudo.
            teúdo é acordado entre as entidades responsá-      Até ao início do estudo, a exploração tinha um
            veis, nomeadamente a DSVR, o médico-veterinário   estatuto sanitário para Brucelose de B4 e era tam-
            coordenador da Organização de Produtores Pe-    bém indemne para Tuberculose bovina, e o efeti-
            cuários (MVOPP), o médico-veterinário executor   vo era apenas vacinado contra clostridioses e
            (MVE) e o Produtor, e tem uma duração mínima    desparasitado anualmente aquando da visita de
            de cinco anos.                                  sanidade.
               Com tudo isto, este estudo teve como objetivos
            descrever um surto de brucelose numa exploração   Descrição do surto
            de bovinos de carne no Alto Alentejo e discutir o   Em março de 2018, foi realizado o serviço de
            impacto económico na exploração, estudar a pre-  sanidade anual nesta exploração, onde foram rea-
            valência da doença no efetivo, e identificar fatores   lizadas  colheitas  de  sangue  para  obtenção  de
            de risco para a ocorrência do surto.            amostras a todo o efetivo bovino a partir dos 6
                                                            meses. Por esta data de testagem (T1), foi deteta-
                                                            do o primeiro caso positivo ao teste Rosa de Ben-
            Material e Métodos                              gala e ao teste de fixação do complemento. Este
                                                            animal foi retestado e confirmado como seroposi-
            Caracterização da exploração                    tivo, ficando a exploração sob sequestro. À data
               Exploração com um efetivo bovino de raça cru-  do primeiro caso positivo, não existia qualquer
            zada de Alentejana e Charolesa, composta por um   sinal clínico descrito ou queixa do produtor em re-
            total de 295 animais, 192 dos quais com mais de   lação a uma possível falha reprodutiva ou outros
            6 meses de idade à data da visita em março de   problemas clínicos. Procedeu-se ao isolamento
            2018. Está situada no Alto Alentejo, em regime   imediato do animal seropositivo para abate sani-
            extensivo numa única propriedade, com uma área   tário. O estatuto sanitário da exploração passou a
            aproximada de 386,5 hectares, localizada numa   B2 (efetivo com suspeita de brucelose). Retesta-
            zona rodeada de explorações com o mesmo pro-    gens (T2 a T12) foram levadas a cabo a cada pe-
            pósito e várias atividades agrícolas de sementeira.   ríodo entre 30 e 60 dias a todos os animais com
            Esta exploração está integrada numa associação   mais de 6 meses (ou mais jovens, em casos de
            de caça devido à abundância de espécies cinegé-  serem descendência de animais identificados
            ticas presentes nesta zona. O abeberamento dos   como seropositivos), enquanto houve animais se-


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