Page 9 - Revista Portuguesa de Buiatria - Nº 23
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RPB: Que razões o/a levaram a escolher
                                                            trabalhar na ilha do Pico?
                                                               Ana Manuela Azevedo: Ser picarota de nas-
                                                            cença e adorar viver na ilha.
                                                               Dário Bettencourt: Voltar à ilha do Pico foi
                                                            sempre a primeira opção, por várias razões: sou
                                                            um apaixonado pela minha ilha, e os meus pais
                                                            tinham e têm uma exploração de vacas de carne.
                                                            O sector veterinário carecia de profissionais
                                                            quando terminei o curso e havia muito trabalho
                                                            em grandes animais. Quando comecei a traba-
                                                            lhar, uma colega foi mãe e a outra vereadora, ten-
                                                            do ficado sozinho como veterinário de grandes
                                                            animais na ilha. RPB: Como se sentiu nesse
            Figura 7. Lagoa no planalto da ilha do Pico.
                                                            momento, com todas essas responsabilida-
                                                            des e recém-licenciado? Dário Bettencourt:
                                                            Não foi fácil ao início. Ouvi expressões como: sa-
                                                            bes fazer isso? Vais fazer isso sozinho? A doutora
                                                            não vem? Os maiores medos eram as cesarianas
                                                            e os prolapsos uterinos. Pensava, será que con-
                                                            sigo reduzir o prolapso e será que consigo exte-
                                                            riorizar e suturar o útero? Mas tive a sorte, que
                                                            também é importante, de apanhar nas primeiras
                                                            cesarianas, produtores experientes que ajudaram
                                                            imenso. Começou tudo a correr bem desde o iní-
                                                            cio, o que foi fundamental. Estava sempre dispo-
                                                            nível e os produtores começaram a perceber que
            Figura 8. Parto distócico em novilha primípara.  podiam contar comigo. A nível de experiência, de
                                                            estofo clínico e de prática, foi o melhor que podia
                                                            ter acontecido.
                                                               Gonçalo Rosa: Adoro os Açores, em especial
                                                            a minha ilha, o Pico. Sinto-me confortável cá. Te-
                                                            nho a minha vida toda cá, a minha família, a la-
                                                            voura, o mar, a pesca. E por isso, prefiro
                                                            saturar-me um mês do Pico e sair para outro lu-
                                                            gar, do que saturar-me desse lugar e vir um mês
                                                            ao Pico. Felizmente surgiu a oportunidade de tra-
                                                            balhar na AAIP e cá estou.
                                                               Marina Oliveira: Eu adoro a minha ilha, a mi-
                                                            nha família e os meus amigos. Aqui também exis-
                                                            tem muitas vacas e muito trabalho na área da
                                                            buiatria. Surgiu a oportunidade de trabalhar cá na
                                                            ilha, com uma equipa de colegas fantásticos e foi
                                                            só juntar o útil ao agradável, fazer aquilo que gos-
                                                            to, num sítio que gosto.

                                                               RPB: Quais as principais diferenças entre
                                                            viver no Pico e em Vila Real?
                                                               Ana Manuela Azevedo: A primeira grande di-
                                                            ferença é a falta do mar. Engraçado como tinha
                                                            colegas que me questionavam se não me sentia
                                                            algo claustrofóbica por viver numa ilha, por não ter
                                                            por onde sair, e era exatamente assim que me
                                                            sentia com a falta do mar e da ilha de São Jorge   N. o  22, Dezembro 2023
            Figura 9. Trigémeos após o parto, junto da carrinha da AAIP.  em frente. Um bocadinho controverso. As tempe-

                                                                                        Revista Portuguesa de Buiatria  7
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