Page 10 - Revista Portuguesa de Buiatria - Nº 23
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raturas, inverno bem mais rigoroso do que no Pico,
            também constituíam uma grande diferença.

               RPB: Como descreveria o dia a dia do seu
            trabalho no apoio à pecuária da ilha?
               Ana Manuela Azevedo: Um desafio diário, e
            constante, em que todos os dias são diferentes,
            quer pelo serviço que prestamos, como pelas pes-
            soas e lugares com que nos cruzamos e estamos.
               Dário Bettencourt: O dia-a-dia do veterinário
            de campo na ilha depende muito da época do
            ano. De inverno é uma correria, com urgências a
            toda a hora. A raça dominante é o Charolês, o que
            origina muitos problemas reprodutivos. De verão
            é mais calmo e aproveitamos para realizar as va-  Figura 10. Novilhas charolesas de reposição.
            cinações dos rebanhos, e claro, gozar as mereci-
            das férias.
               Gonçalo Rosa: O meu dia a dia é sempre
            uma novidade. E isso é que me motiva. Não há
            rotina. Ora chuva, ora sol, ora no Norte, ora no
            Sul da ilha, ora na montanha, ora à beira mar,
            vaca de carne/vaca de leite, porco ou cabra, ce-
            sariana ou parto. É sempre um desafio um dia de
            trabalho. RPB: Essa grande variedade de ca-
            suística deve levantar muitos desafios em ter-
            mos de constante adaptação. Como faz para
            se  manter atualizado em termos  profissio-
            nais? Gonçalo Rosa: Sempre que há oportuni-
            dade tento marcar presença em alguns
            congressos, mas nem sempre é fácil conciliar
            com a vida profissional. Acabo por trocar muita
            informação com os meus colegas de trabalho e
            por vezes contactar colegas com quem estagiei.
               Marina Oliveira: O dia a dia do trabalho é bas-
            tante dinâmico. Tem épocas com mais trabalho
            que outras, nomeadamente no inverno, onde há,
            por exemplo, mais partos. Mas há sempre traba-
            lho e nenhum dia é igual ao anterior.

               RPB: Que condições diferentes de outros
            locais, mais centrais, tem o trabalho de buia-  Figura 11. Diagnóstico de gestação por palpação rectal.
            tra numa ilha como o Pico?
               Ana Manuela Azevedo: O facto de por vezes    de noite para vigiar os animais que estão próximos
            os animais estarem situados em lugares opostos   do parto ou que pariram recentemente, o que ori-
            da ilha faz com que tenhamos de percorrer vários   gina muitas chamadas de noite também. No Alen-
            quilómetros entre consultas. Há também a dificul-  tejo, na zona onde estagiei (Montemor-o-Novo), é
            dade de o Laboratório Regional de Veterinária   um pouco diferente, muitas explorações têm cola-
            localizar-se na ilha Terceira, o que resulta que   boradores que tomam conta dos animais.
            certos diagnósticos não nos chegam com a velo-     Gonçalo Rosa: No Pico, para mim, a maior
            cidade que por vezes desejávamos.               diferença que encontro em relação a outros luga-
               Dário Bettencourt: Trabalhar no Pico é muito   res onde trabalhei/estagiei é a dificuldade no ma-
            engraçado, porque os donos de praticamente      neio com os animais, quer em situações de
            100% das explorações é que cuidam dos seus ani-  sanidade, quer em  situações de urgência.  No
            mais, ou estão presentes na consulta, logo a aten-  Pico, um buiatra tem de se habituar às condições
            ção para com os animais é redobrada. Levantam-se   existentes. Ou não temos curral e manga para


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