Page 53 - Revista Portuguesa de Buiatria - Nº 22
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ser humano ou até outros animais (Health and    tarem, dão um puxão na corda e laceram o pró-
            Safety Executive, 2012). Os touros de raças leitei-  prio nariz. Pode também acontecer que a argola
            ras são, frequentemente, mais perigosos do que   fique presa em qualquer objeto saliente (pregos,
            os touros de raças de carne (Grandin, 2006).    ganchos, etc) enquanto o touro anda a comer ou
               Os touros tornam -se mais perigosos durante   a cheirar no pasto, e que o nariz seja ferido quan-
            a época de cobrição, e quando estão na pasta-   do o animal se tenta soltar. As argolas velhas e
            gem devem usar uma corrente por forma a permi-  enferrujadas podem também lesionar o nariz
            tir algum controlo em caso de ataque. Pessoas   (Stöber, 1988).
            muito jovens (menos de 18 anos), idosas ou com     Para evitar estes acidentes, as cordas que
            mobilidade reduzida não devem manejar estes     prendem os touros deveriam estar presas ao pes-
            animais. Nas visitas à manada, se um touro está   coço, cornos ou cabeçadas e só deveriam ser
            presente, nunca se deve perdê -lo de vista, nem   passadas na argola quando fosse necessário
            voltar -lhe as costas. Não se devem levar cães   conduzir ou controlar o animal.
            para junto destes animais, mas deve -se estar mu-  Estes rasgamentos originam feridas que san-
            nido de algum instrumento de defesa. Os touros   gram copiosamente, com bordos irregulares, te-
            devem conhecer as pessoas que cuidam deles e    cidos lacerados, cavidades geralmente muito
            associá -las a uma experiência positiva, mas não   contaminadas pela comida e pelo corrimento na-
            devem ser tratados com demasiada familiaridade   sal. Em 12 – 24 horas é comum instalar -se um
            (McNamara e Bligh, 2020).                       edema pronunciado (Dirksen et al., 2005).
               Desde há muitos anos, que as argolas ou anéis   O plano nasolabial dos bovinos é uma região
            de metal inseridos no septo nasal de bovinos ma-  ricamente vascularizada e inervada, pelo que o
            chos adultos são usados como forma de conter e   consequente grau de inflamação dos tecidos no
            manejar estes animais, constituindo uma impor-  local da lesão é considerável (Köstlin et al.,1988).
            tante medida de segurança, quer para o tratador   Segundo Dirksen et al. (2005), para se ter êxito
            do animal, quer para terceiros (Köstlin et al., 1988).   na resolução cirúrgica deve intervir -se logo nas
            São colocadas em animais que se pretendem usar   primeiras 6 horas após o rasgamento ou então
            como reprodutores ou que simplesmente se prevê   aguardar cerca de 10 a 14 dias. Este tempo de
            que se mantenham na exploração durante vários   espera é essencial para perceber quais os tecidos
            anos. Esta medida assume particular importância   que vão naturalmente necrosar, permitir a dimi-
            para animais que são mantidos em pastoreio, uma   nuição da inflamação no local, perceber quais as
            vez que nestas circunstâncias é mais difícil garan-  margens viáveis da ferida e aguardar a ativação
            tir a segurança dos operadores (Köstlin  et al.,   do processo de cicatrização para a formação do
            1988; Health and Safety Executive, 2012).       tecido de granulação (Dirksen et al., 2005).
               A aplicação das argolas nasais deve ser feita
            na parte mole do septo nasal, antes do início da
            cartilagem nasal, em animais jovens com cerca   Caso clínico
            de 10 meses de idade. Este procedimento deve
            ser executado por um médico veterinário, com o   História
            animal sob sedação. As argolas utilizadas devem    Este caso clínico trata de um bovino macho
            ter um diâmetro apropriado ao tamanho e idade   inteiro, da raça Aberdeen -Angus, com cerca de 1
            do animal, apresentarem uma superfície lisa, sem   ano de idade e aproximadamente 400 Kg de peso
            irregularidades, e serem fabricadas num material   vivo (pv), pertencente a uma exploração situada
            resistente à corrosão, como o aço inoxidável ou o   na ilha Terceira, Açores. O animal, recentemente
            alumínio (McNamara e Bligh, 2020).              adquirido pela exploração com o objetivo de vir
               Às vezes os touros podem arrancar as argolas   ser utilizado como reprodutor, era mantido em re-
            nasais, provocando o rasgamento transversal do   gime de pastoreio juntamente com outros animais
            focinho (Dirksen et al., 2005). Este tipo de lesão   da exploração.
            pode ocorrer em inúmeras situações, mas mais       No dia 18 de janeiro de 2021, durante a visita
            frequentemente estão associadas ao uso das ar-  dos serviços oficiais no âmbito da campanha de
            golas como único meio de contenção. Os animais   sanidade animal, este animal foi amarrado ape-
            contidos desta forma podem assustar -se com o   nas pelo nariz ao portão da manga para que os
            bater repentino de uma porta, o aparecimento    técnicos procedessem à colheita de sangue. Du-
            inusitado de uma pessoa estranha, de outro ani-  rante este processo o touro assustou -se e fez um
            mal ou de uma viatura, o esvoaçar de um papel   rasgamento transversal do focinho. A argola nasal   N. o  22, Novembro 2021
            ou de um saco plástico, e na tentativa de se liber-  tinha sido aplicada apenas uma semana antes.


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