Page 12 - Revista Portuguesa de Buiatria - Nº 22
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terminar a prevalência da cetose no rebanho, se-  perceção dos produtores, o que levanta a possi-
            guir a variação ao longo do tempo e definir estra-  bilidade de que as vacas primíparas lidam com
            tégias para lidar com os desafios metabólicos da   problemas metabólicos durante o período de
            transição (Viña et al., 2016; Renaud et al., 2018).  transição, devido à competição com animais
               Desde 2014 que está disponível para os pro-  mais velhos e o desafio de conjugar a produção
            dutores, médicos veterinários e outros consulto-  de leite com o seu próprio crescimento. Seria de-
            res em Portugal continental um extenso serviço   sejável mais estudos sobre este tema nas condi-
            de monitorização de BHB nas amostras do con-    ções portuguesas.
            traste leiteiro e foram os dados derivados desse   Neste contexto, e como já descrito por Gua-
            serviço que geraram a base de dados do presente   dagnini et al (2019), novilhas que parem com uma
            trabalho. Estes dados foram analisados com o    idade mais avançada têm um risco superior de
            objetivo de descrever o estado da cetose em Por-  desenvolver cetose. Neste trabalho, o risco au-
            tugal continental e ganhar mais informação sobre   menta consideravelmente quando a idade ao pri-
            a mesma. A abrangência amostral deste estudo,   meiro parto é superior a 27 meses. Estes resulta-
            no que toca ao tamanho, maneio e localização    dos permitem -nos especular sobre a importância
            geográfica permite descrever como as explora-   de promover um crescimento apropriado destes
            ções de Portugal continental estão a lidar com os   animais. É por um lado necessário cobrir as ne-
            desafios metabólicos da transição.              cessidades nutricionais relacionadas com o cres-
               A prevalência global de cetose no período em   cimento durante a primeira lactação, ao mesmo
            estudo foi de 27% e de 24% se virmos apenas os   tempo que se evita uma acumulação excessiva
            dados de 2019.                                  de tecido adiposo típica de animais mais velhos,
               Estes valores estão de acordo com estudos    pois estas novilhas comportar -se -ão como multí-
            prévios que usaram a mesma tecnologia e limia-  paras com elevada condição corporal (Van Am-
            res de BHB, como Guadagnini et al (2019) que    burgh et al., 2019).
            reportou uma prevalência de 20% em vacas de        Foi detetado que o sexo do vitelo afeta o risco
            leite na Catalunha, ou Tatone et al (2017) que   de padecer de cetose nos partos simples: vacas
            reportou uma prevalência de 21% em vacas do     que parem machos têm um risco de cetose ligei-
            Canadá.                                         ramente superior, de acordo com o descrito em
               Em Portugal, um estudo anterior realizado em   estudos anteriores em Espanha e nos EUA (Gua-
            1.000 vacas utilizando amostras de sangue e um   dagnini et al., 2019; McArt et al., 2013). Estes re-
            limiar de 1,2 mmol/l (Suthar et al., 2013), reportou   sultados, em conjunto com os obtidos por Ettema
            uma prevalência de cetose subclínica de 29,5%.  e Ostergaard (2015), que evidenciou menor pro-
               No conhecimento dos autores, este é o primei-  dução de leite em vacas que parem machos, real-
            ro estudo em Portugal que tem um número de      çam a importância que tem a partição de nutrien-
            vacas e explorações tão elevado.                tes entre vaca e vitelo antes do parto e as implica-
               Para além disso, este estudo encontrou uma   ções de saúde e económicas do sexo do vitelo.
            proporção alta de explorações com uma preva-       Vanholder  et al  (2015) descreveu um risco
            lência de cetose elevada, pois cerca de 66% das   mais alto de cetose à medida que a lactação e
            explorações que testaram (dos 5 aos 25 DEL)     período seco anterior aumentam. Assim, com os
            pelo menos 12 vacas nos últimos 365 dias tiveram   dados disponíveis na presente base de dados, foi
            uma prevalência superior a 25%.                 decidido avaliar o impacto do intervalo entre par-
               Assim, e graças à informação contida nesta   tos, dividido em duas classes, no risco de cetose.
            base de dados, foi possível demonstrar que a ce-  As vacas com um intervalo entre partos maior que
            tose é uma doença relevante para as explorações   480 dias tiveram maior risco de desenvolver ce-
            de Portugal continental e que deverá ser um pon-  tose, o que pode ser devido a um maior risco de
            to a prestar atenção para melhorar a rentabilidade   ter uma condição corporal elevada.
            das explorações de leite.                          A estação do ano em que ocorreu o parto foi
               Por último, foram identificados vários fatores   identificada como um fator de risco para cetose:
            de risco para a ocorrência de cetose. Em primeiro   as vacas que pariram no verão tiveram um risco
            lugar, a prevalência de cetose aumentou com a   significativamente superior de desenvolver cetose
            paridade revelando um aumento do risco em va-   comparadas com as vacas que pariram noutras
            cas com 2 e 3 ou mais partos quando compara-    estações do ano. Este resultado está parcialmen-
            das com primíparas. Não obstante, a prevalência   te de acordo com Bach e Andreu (2016), que efe-
            de cetose identificada em primíparas neste tra-  tuou um estudo em Espanha e encontrou um
            balho é consideravelmente mais alta do que a    risco superior de cetose em vacas que parem no


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