Page 35 - Revista Portuguesa de Buiatria - Nº 22
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nica mais elevada. Apesar de tudo, o teste exato A associação entre a fase de lactação de cada
de Fisher aplicado para verificação de uma pos- vaca aquando do diagnóstico de mamite por S.
sível associação entre a cura clínica atingida e o uberis com a resposta terapêutica obtida foi tam-
protocolo terapêutico utilizado não permitiu iden- bém avaliada. Uma maior taxa de cura subclínica
tificar qualquer evidência estatística. foi atingida entre os 76 e 225 dias em leite (60%),
O método escolhido para analisar a resposta bem como após os 225 dias (60%), enquanto no
aos protocolos aplicados foi a CCS, 14 dias após início da lactação apenas 28,6% foram capazes
o término da terapêutica, uma vez que a IIM tem de a atingir. Esta baixa taxa obtida nos primeiros
sido reconhecida como o principal fator influen- 75 dias em leite poderá estar relacionada com o
ciador do número de CS no leite (Milne et al. facto de este ser o período do pico de produção
2005). Assim, através de um registo das CS (Deluyker et al. 2005), existindo uma eliminação
aquando do diagnóstico e após a terapêutica foi de antibiótico mais célere, o que impede a ação
possível visualizar as alterações resultantes de prolongada necessária nesta terapêutica.
cada protocolo. Na terapia de benzilpenicilina pro- Na totalidade dos casos diagnosticados com
caínica IMM com duração de sete dias foi possível mamite por S. uberis e incluídos no estudo apre-
constatar uma diminuição significativa, pois a me- sentado, os valores de CCS após terapêutica di-
diana registada após tratamento (197 000 CS/ml) minuíram bastante em relação aos valores aquan-
é inferior à mediana obtida aquando do diagnós- do do diagnóstico e aos do mês anterior ao mes-
tico (1 245 000 CS/ml), assim como no protocolo mo. Contudo, encontram -se sensivelmente mais
à base de terapia combinada, o que coincide com de 50% dos valores acima das 200 000 CS/ml, o
o facto de estes terem sido os protocolos com que corrobora Constable et al. (2017) que descre-
maior taxa de cura subclínica. ve que mamites por S. uberis apresentam valores
Outros fatores que podem estar implicados na elevados durante 4 meses após tratamento. As-
taxa de cura subclínica são a paridade e a raça sim, as taxas de falha terapêutica obtidas pode-
do animal (Sandgren et al. 2008). No que diz res- rão estar inflacionadas visto que o período utiliza-
peito à paridade, foi percetível que vacas multípa- do para avaliação da resposta ao tratamento po-
ras têm uma maior taxa de falha terapêutica derá ter sido muito curto. Existe, ainda, possibili-
(57,9%), estando de acordo com Deluyker et al. dade, segundo Hillerton e Kliem (2002), de que a
(2005), Sandgren et al. (2008) e Samson et al. falha na recuperação ao nível das CS presentes
(2016) que verificam menores taxas de cura em no leite se deva, não a uma infeção persistente,
vacas com maior número de lactações. Segundo mas sim a danos residuais do epitélio mamário.
Samson et al. (2016), as possíveis razões para
que este seja um fator limitante, apesar de não
comprovadas, são o aumento do volume do úbere Conclusão
com a idade, o que levaria a uma menor dose de
antibiótico por volume de tecido mamário, e a de- Apesar de toda a pesquisa e desenvolvimento
terioração natural do sistema imunitário, promovi- de métodos de controlo para minimizar a ocorrên-
da pelo envelhecimento. Contudo, os resultados cia de mamites, esta continua a ser a doença
obtidos não demonstram qualquer evidência es- mais importante a nível económico para as explo-
tatística de que existe uma associação entre a rações leiteiras. Um dos principais fatores que
resposta terapêutica e o número de lactações do contribuirá para o estabelecimento de medidas
animal. adequadas de controlo e tratamento de mastites
A duração de infeção é, igualmente, um fator é o conhecimento da epidemiologia e dos perfis
que interfere com a taxa de cura subclínica obti- de suscetibilidade dos vários agentes etiológicos,
da, tendo sido demonstrado que IIM prolongadas sendo fundamental a realização e publicação de
atingem taxas de cura subclínica mais baixas estudos realizados em Portugal, de forma a en-
(35,7%). Tal como descrito por Samson et al. contrar estratégias economicamente viáveis para
(2016), que afirma que infeções sem CCS eleva- o produtor.
das antes do diagnóstico têm maior probabilidade O objetivo principal deste trabalho passou pela
de atingir a cura, as IIM que se iniciaram aquando testagem de diferentes protocolos terapêuticos à
do diagnóstico obtiveram uma taxa de cura mais base de benzilpenicilina procaínica IMM, com vis-
elevada (75%). Porém, o teste exato de Fisher ta a travar infeções por S. uberis. Assim, foi per-
elaborado não demonstra evidência estatística de cetível que a terapia combinada com duração de
que existe uma associação entre a taxa de cura cinco dias – benzilpenicilina procaínica IMM as- N. o 22, Novembro 2021
subclínica obtida e a duração da infeção. sociada a ampicilina IM – teve uma influência
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