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secos, o que poderá ser justificado pela influência   típaras. Os mesmos autores sugerem que possa
            da pluviosidade no crescimento da erva entre o   existir um efeito sazonal, associado aos dias
            final do inverno e o início da primavera, aumen-  curtos e à redução dos recursos alimentares
            tando a disponibilidade de pasto para a alimenta-  nesta altura do ano. Como se sabe, a escassez
            ção animal.                                     de alimento irá promover uma diminuição da
               Após consulta do boletim climatológico anual   condição corporal (CC). O mesmo defendem Ya-
            de 2012, do IPMA, verificou-se que o ano de 2012   vas e Walton (2000) que afirmam que, embora
            foi caracterizado por uma seca severa, principal-  os bovinos não sejam reprodutores sazonais es-
            mente no final do inverno e no início da primavera.   tritos, a época do ano em que o parto ocorre
            Consultando a mesma fonte para os anos de 2013   influencia o retorno à atividade ovárica nas raças
            e 2014, verificou-se que 2013 foi caracterizado   mais sazonais e o início da puberdade, pelo nú-
            como um ano ‘normal’ no que respeita à ocorrên-  mero de horas a que os animais estão expostos
            cia de precipitação e que 2014 foi classificado   à luz solar.
            como um ano muito chuvoso. Tendo em conta          De modo geral, considera-se que os valores
            este facto e o descrito na literatura científica, seria   dos parâmetros reprodutivos são melhores quan-
            expectável que o valor do IEP_1 mais elevado    do os partos sucedem na primavera. Contudo, no
            surgisse no ano de 2012, e que 2013 e 2014 fos-  Gráfico 5 o valor mais baixo de IEP_1 foi registado
            sem caracterizados por valores de IEP_1 mais    no último trimestre do ano, que diz respeito aos
            reduzidos.                                      meses da estação outono/inverno. Assim sendo,
                                                            não parece que os resultados dos efetivos em
            Época de parto                                  estudo tenham sido influenciados pela época do
               Da análise do Gráfico 5, foi possível constatar   ano em que os partos ocorreram. Pressupõe-se
            que, de um modo geral, as vacas com partos re-  que a utilização dos restolhos resultantes das cul-
            gistados no primeiro trimestre do ano apresenta-  turas de cereais no verão, seja benéfica para a
            vam um IEP_1 médio mais longo (aproximadamente   manutenção da CC e, consequentemente, para o
            466 dias) em contraste com as que registavam um   encurtamento do anestro pós-parto e na rapidez
            parto no último trimestre, que apresentavam um   da retoma da atividade ovárica. De acordo com
            IEP_1 médio mais curto (cerca de 439 dias), se   Carmona-Belo et al. (2013), os dias curtos de in-
            bem que não estatisticamente distinto do IEP_1   verno e uma nutrição deficiente na fase final da
            registado no trimestre 2. A distinção entre os tri-  gestação, prejudicam as vacas de aptidão cárni-
            mestres intermédios foi pouco significativa, exis-  ca. Estas fatores interagem com o reinício da ati-
            tindo apenas uma diferença de sete dias no IEP_1   vidade ovárica e, consequentemente, com a
            entre estas duas épocas.                        duração do IEP.
               Horta et al. (1990), num trabalho em vacas de
            raça Alentejana, concluíram que o anestro pós-  Parâmetros genéticos
            -parto é substancialmente superior em vacas        As estimativas dos parâmetros genéticos e fe-
            com partos no inverno relativamente às que pa-  notípicos do IEP, segundo as três bases de dados,
            rem no verão, tanto em primíparas como em mul-  A, B e C, correspondendo, respetivamente, a to-
                                                            dos os registos de IEP de 21 661 fêmeas, obser-
                                                            vados em 124 criadores entre 2011 e 2020, a todos
                                                            os registos com exceção do primeiro IEP de cada
                                                            fêmea, e apenas ao primeiro registo de IEP obser-
                                                            vado em cada fêmea, obtidas a partir das análises
                                                            univariadas, estão apresentadas na Tabela 2.
                                                               As estimativas dos parâmetros genéticos dos
                                                            caracteres reprodutivos e de longevidade na raça
                                                            bovina Alentejana estão de acordo com a maioria
                                                            das referências bibliográficas, que apontam valo-
                                                            res de heritabilidade reduzidos para este tipo de
                                                            caracteres. Esta baixa heritabilidade demonstra o
                                                            efeito de fatores ambientais como por exemplo o
            Gráfico 5. Relação entre a época de partos e o IEP (2011-  maneio nutricional ou reprodutivo nos índices re-
            2020), em bovinos de raça Alentejana, nos quatro criadores   produtivos (Ojango e Pollott, 2001). Apesar das
            em estudo. Valores de IEP seguidos de letras iguais não                                          N. o  22, Dezembro 2023
            apresentam diferenças significativas entre eles (p≤0,001),   estimativas da heritabilidade dos diversos parâ-
            segundo o método de LSMeans.                    metros reprodutivos e de longevidade serem re-

                                                                                        Revista Portuguesa de Buiatria  55
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